Museu da Escravidão vai ser lançado em maio no Rio

O objetivo é incentivar e contextualizar estudos sobre o período e formar professores

Após a inclusão do Cais do Valongo na lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Museu da Escravidão Negra no Brasil pode sair do papel. A lei que define diretrizes para construção do espaço foi sancionada na semana passada pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Ficou estabelecido que o novo museu será centro de referência para estudos sobre a contribuição da população negra para o desenvolvimento do estado. O objetivo é incentivar e contextualizar estudos sobre o período, além de formar professores. “Será um local para as pessoas buscarem a verdadeira história da escravidão”, disse o deputado Geraldo Pudim (MDB), que liderou a aprovação da lei.

Segundo o deputado, a expectativa é que a pedra fundamental do museu seja anunciada em 13 de maio, aos 130 da abolição no Brasil – último país a acabar com a prática na América. “É preciso difundir o horror desse período, em termos de violência, de tortura, de estupros e da absoluta negação da humanidade a um grupo de pessoas que, logo depois, passou a constituir a maioria da população e, por isso mesmo, houve uma série de políticas para acabar com ela”, completou o parlamentar.

O acervo do novo museu deve ser inicialmente composto por peças de religiões de matriz africana. Tais peças, apreendidas de coleções dos anos 20 e tombadas ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), estão sob a guarda da Polícia Civil, e inacessíveis ao público, mas arquivos históricos e coleções, fotografias, documentos, pinturas e utensílios que possam reconstituir a história e os costumes dos descendentes de africanos também devem ser expostos.

Estão sendo estudadas duas opções de endereço para o Museu da Escravidão Negra no Brasil estão em estudo. Uma delas é a antiga sede do Museu da Imagem e do Som, no centro, e a outra é o Centro Cultural José Bonifácio, na zona portuária, próximo ao Valongo, onde estão outros importantes sítios históricos. Ali, já funciona provisoriamente o Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL), gerido pela Prefeitura do Rio. Há um ano, o espaço recebeu a primeira peça, um cadeado de ferro utilizado na senzala de uma fazenda no Vale do Café.

A Secretaria Municipal de Cultura informou que não foi consultada pelo governador do estado para abrir o museu. A pasta quer transferir o MEL para o Armazém Central de Docas D. Pedro II, hoje ocupado pela organização não governamental Ação Cidadania, criada pelo sociólogo e ativista dos direitos humanos Herbert José de Sousa, o Betinho. Ali, devem ser expostas cerca de 500 peças retiradas das escavações do cais.

“O que pretendemos, na verdade, é unir os dois projetos”, disse o deputado Geraldo Pudim, sobre os museus estadual e municipal. Segundo ele, para abrir o novo museu serão necessários cerca de R$ 300 mil após a definição da sede. A lei aprovada pela Alerj, cujo projeto inicial incluía fonte de receitas, como as loterias, não prevê orçamento próprio para a iniciativa.

O secretário especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Juvenal Araújo Júnior, disse que apoia a criação do museu nos moldes dos memoriais do holocausto, na Alemanha, e pretende intermediar as negociações entre as secretarias estadual e municipal de Cultura. “Antes de mais nada, é preciso um projeto do museu”. Para ele a prioridade é recuperar e catalogar as peças sagradas que estão sob a guarda da Polícia Civil. “Precisa ser dado tratamento técnico, por profissionais, fazer limpeza, restauração, catalogar, com especialistas. Vamos dar a elas o tratamento adequado, junto com o Iphan, esse é o primeiro passo.” Segundo o secretário, as peças estão mal-acondicionadas em caixas de papelão.

(Com a Agência Brasil)

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