Violência em nome de Jesus

Traficantes impõem terror contra espiritismo na Baixada

 

Eles roubam, traficam, matam e subjugam os moradores das comunidades as quais dominam. São bandidos sanguinários, mas dizem que estão agindo em nome de Deus quando invadem centros de Umbanda e Candoblé, e determinam o fechamento das casas. Autodenominados “Traficantes de Jesus”, chegam, dão o recado e saem disparando suas armas para o alto. Ai de quem ousa desrespeitar a voz dos “enviados”. Mas a coisa é ainda pior: fundamentalistas evangélicos, pessoas que lêem a Bíblia, não entendem uma só palavra e a pregam como se a Constituição fosse, acham que os “convertidos” estão mesmo a serviço do céu. Há denúncia, por exemplo, de que um grupo que age na região seria chefiado por um pastor.

De acordo com as estatísticas, este ano já foram registrados 38 casos de invasão de terreiros. Foram 15 em Duque de Caxias, 10 em Belford Roxo, 10 em São João de Meriti e três em Nova Iguaçu. Preocupado com a onda de violência e intolerância religiosa, o Ministério Público Federal enviou ofício ao governador Wilson Witzel requerendo, com urgência, a adoção de providências no âmbito da segurança pública e a realização de uma audiência para tratar dos casos de intolerância religiosa na região. No documento também estão presentes relatos de representantes das comunidades. Um deles dá conta de que em Caxias, um grupo de traficantes chefiados por um pastor teria percorrido 15 barracões de Candomblé e Umbanda e ordenado a fim da atividade religiosa.

O procurador da República Julio José Araujo Junior, vem acompanhando a escalada da intolerância religiosa contra as comunidades de matriz africana, o que resultou numa comissão permanente com os povos de santo para fortalecer o diálogo entre o MPF e a comunidade para acompanhar mais de perto as questões, mas as ações das autoridades de segurança tem sido mais burocráticas do que efetivas.

O procurador se reuniu na quarta-feira (29) com o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Andre Ceciliano, para tratar dos casos de intolerância religiosa. Julio José apresentou informações que foram colhidas em inquérito civil público que tramita na Procuradoria da República em São João de Meriti. No encontro ele ressaltou a importância do papel promocional de direitos no combate ao racismo religioso, que envolve as áreas da cultura e da educação, mas também apontou as dificuldades decorrentes dos problemas de segurança pública enfrentados pelo povo de santo.

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