Sobre a ‘profecia’ de um canalha

● Elizeu Pires

O corpo do jornalista Marcelo Rezende está sendo velado na Assembleia Legislativa de São Paulo e será sepultado às 17h. Marcelo morreu ontem (16), vítima de um câncer diagnosticado inicialmente no pâncreas, que tomou também o fígado de um dos mais importantes profissionais do jornalismo brasileiro. Tendo militado por mais de 40 anos, Rezende produziu centenas de matérias investigativas, nas quais denunciou o jogo sujo de autoridades, políticos e dirigentes esportivos, mas foi um “pastor” quem mais praguejou contra ele. Sim, praguejou, pois praga é o termo certo para definir o sermão de um canalha que ficou rico a custa do esforço financeiro de milhões de brasileiros que se deixam enganar pelas pregações de Valdemiro Santiago, o fundador de uma empresa multinacional da fé, a Igreja Mundial do Poder de Deus. O “apóstolo”, como o enganador se apresenta em programas de televisão e em templos de sua seita, ficou irado com uma reportagem de Marcelo, que decidiu mostrar ao país como esse “ungido” ficou rico explorando a fé dos que adoram ser enganados por gente como ele em nome de Deus e resolveu “profetizar” o fim do repórter.

Em um de seus espetáculos circenses (que me perdoem os artistas de circo) Santiago afirmou que tinha ficado tão revoltado com a matéria que mandou Deus pesar a mão sobre o jornalista e depois completou: “O diabo está comendo o fígado dele!”

Eu não sei qual é o deus deste homem, mas o meu é bem diferente. É amor, é misericórdia, não pesa a mão sobre ninguém nem joga seus filhos no leito, como alguns seguidores de insanos como Valdemiro costumam dizer.

O meu Deus não precisa de dinheiro, de jatos, mansões, fazendas nem de milhares de cabeça de gado, pois o seu “rebanho” é formado por seus filhos, em cujos corações Ele habita.

Talvez, neste momento, em alguns dos “pontos comerciais” da seita do “apóstolo”, muitos devem estar comemorando o que idiotas – os que entendem como de Deus as palavras que saem da boca deste explorador da fé – possam interpretar como confirmação de uma profecia, mas Marcelo Rezende não morreu porque o deus de Valdemiro assim decidiu como punição. Rezende cumpriu sua missão aqui entre nós, combatendo o bom combate, encerrando a carreira e guardando sua fé.

 

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